Vez ou outra alguém me provoca:
Por que dividir as coisas em masculino e feminino?
Na verdade, se a gente olha amplo, nada está separado. O universo, por exemplo, é uma grande ilusão de ótica. Tudo é energia. Ou não. Depende da lente.
Observar as energias masculina e feminina nos faz entrar em contato com a arte de dar à luz. Muito além das questões de gênero, essas energias são forças da natureza. Uma força age. A outra força recebe. Assim, as coisas nascem. Por exemplo, o sol ilumina a terra, de onde brotam as árvores. Dá pra ver essa dança em tudo. O milenar livro chinês I Ching conta: o céu se une a terra, gerando abundância pra todos.
Há um desconforto, porém, quando estabelecemos juízos de valor. Passamos a estabelecer uma hierarquia estranha como se quem agisse fosse mais importante do que quem acolhesse. Esse pensamento é um tiro no pé, pois é a dança que faz prosperar. A dança é o centro. Não tem protagonista. Esse desconforto, portanto, não vem da observação do masculino e do feminino. Vem da visão insustentável de que alguém deva prevalecer.
Imagine se o sol deixasse de brilhar e a terra deixasse de parir? Imagine se eles brigassem por mais privilégios ao invés de trabalhar em conjunto? Se deixassem de admirar suas diferenças?
Cuidar de masculino e feminino é um ato de amor pelo planeta. É algo didático. Faz parte da experiência dual. Curiosamente, aprender com os pólos nos faz ver a maravilhosa unidade de tudo.

foto: Flora Negri (@floravnegri)