A primeira vez em que participei de um grupo de autoconhecimento senti uma alegria inesperada: existiam outras pessoas buscando coisas "diferentes e malucas" iguais a mim. Não sentir que se encaixa e ter o anseio de encontrar uma espécie de paraíso perdido são sinais comuns a quem está buscando um grupo assim. Você se vê quase um mutante dos quadrinhos cheio de poderes especiais embora solitário e incompreendido.
Lembro-me do desejo que tinha de me expressar como era por dentro. Para além das máscaras e fachadas. Num grupo desta natureza podemos dar este passo: coragem de transcender o medo do julgamento e enfim expressar quem somos no íntimo. Passamos a experimentar relações vivas e criativas. Não é necessário forçar um sorriso se estamos tristes tampouco se constranger quando aquela risada fora de hora vem.
Naturalmente portanto, vamos entrando em contato com nosso oceano interior. Desde regiões abissais a etéreas. O resultado de aceitarmos nossas emoções sem julgá-las é redescobrir a serenidade que nos habita para além de nossa personalidade e das oscilações do mundo. Este jardim sagrado ou refúgio interno nos fornecerá calma sempre que precisarmos.
Tal sentido espiritual e cotidiano nos faz ver nossa total interdependência: precisamos uns dos outros - desde aspectos físicos como respirar e comer a aspectos sutis como carinho e reconhecimento. Precisamos das plantas e dos animais, das chuvas e das estações, das pessoas com sabedorias complementares e das palavras de fé. E claro: todos esses seres também precisam de nós.
Temos dons únicos e necessários a esta rede. Não estamos aqui somente para nos realizarmos individualmente. Sem o sentido de comunidade ou conjunto o mundo não é visto como possibilidade de comunhão e sim como mero playground particular e vazio.
Acordamos felizes quando enfim nos reconhecemos sementes de novas sementes.
O grupo portanto é uma pequena matriz que nos inspira a compreender a partir de nosso próprio coração o significado mais amplo de ecologia.
foto: Juliana Lombardi
